“Para um leigo instruído, as coisas que se
relacionam com o amor são incomensuráveis; acham-se, por assim dizer, escritas
numa página especial em que nenhum outro texto é tolerado. Se uma paciente
enamorou-se de seu médico, parece a tal leigo que são possíveis apenas dois
desfechos.” Página 177.
- Que paciente
e médico se unam legalmente e permanentemente;
- Que
médico e paciente se separam e abandonem o tratamento;
- Não
obstante, ainda surge um terceiro desfecho, é que eles iniciem um
relacionamento ilícito, mas essa opção fere a moralidade convencional.
A atração da paciente pelo analista configura-se
como uma artimanha da resistência (mecanismo de defesa) para desviar a atenção
do foco utilizando-se da transferência erótica. Este (a transferência) é um “fenômeno
que ocorre constantemente e que é, como sabemos, um dos fundamentos da teoria
psicanalítica.” (...) Desta forma, o analista não deve atribuir o enamoramento
de sua paciente aos seus encantos pessoais. “de maneira que não tem nenhum
motivo para orgulhar-se de ‘conquista’, como seria chamada fora da análise.” Página
178.
Freud não considerava nem um pouco sensato a postura
de alguns médicos da época que preparavam frequentemente suas pacientes para a
transferência erótica, pois dessa forma o analista/ médico “priva o fenômeno do
elemento de espontaneidade que é tão convincente e cria para si próprio, no
futuro, obstáculos difíceis de superar.” Página 179.
Em dado momento, a paciente pode ficar “inteiramente
sem compreensão interna (insight) e parece estar absorvida em seu amor.” Então
a “resistência está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a continuação
do tratamento, desviar todo o seu interesse do trabalho e colocar o analista em
posição canhestra.” A intenção deste mecanismo é rebaixar o médico “ao nível de
amante e em conquistar todas as outras vantagens prometidas, que são
incidentais à satisfação do amor.” Página 180.
“Mas como deve o analista comportar-se a fim de não
fracassar nessa situação, se estiver persuadido de que o tratamento deve ser
levado avante, apesar desta transferência erótica, eque deve enfrenta-la com
calma?”
Visto que não “deve ponderar que chegou sua vez de
apresentar à mulher que o ama as exigências da moralidade social” ,pois “instigar
a paciente a suprimir, renunciar ou sublimar seus instintos, no momento em que
ela admitiu sua transferência erótica, seria, não uma maneira analítica de
lidar com ele, mas uma maneira insensata. Seria exatamente como se, após
invocar um espírito dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos manda-los
de volta para baixo, sem lhes haver feito uma única pergunta.” Além disso, a
paciente se sentirá humilhada e não deixará de se vingar por ela.” Página 181.
“Visto exigirmos estrita sinceridade de nosso
pacientes, colocamos em perigo toda a nossa autoridade, se nos deixarmos ser
por eles apanhados num desvio da verdade. (...) “não devemos abandonar a
neutralidade para com a paciente, que adquirimos por manter controlada a
contratransferência.” (...) “O tratamento deve ser levado a cabo na
abstinência. Com isso não quero significar apenas a abstinência física, nem a
privação de tudo o que paciente deseja, pois talvez nenhuma pessoa enferma pudesse
tolerar isso.” Página 182.
Segundo Freud, se o analista cedesse aos encantos da
paciente, retribuindo-lhe o amor ofertado, ocorreria que a paciente acalmaria o
objetivo dela, mas ele nunca acalmaria o seu. Seria um triunfo para ela, mas
uma derrota para o tratamento. (Página 185.) “Para o médico, motivos éticos unem-se
aos técnicos para impedi-lo de dar à paciente seu amor”. Página 186.
“O público leigo, sobre cuja atitude em relação à
psicanálise falei no inicio, indubitavelmente apossar-se-á deste debate do amor
transferencial como mais outra oportunidade de dirigir a atenção do mundo para
o sério perigo desse método terapêutico.” Página 187.
Indicação de série que aborda bastante o assunto: Sessões de terapia.

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