sábado, 19 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi




 Pi Patel mora em um zoológico da Índia, com seus pais e um irmão. Desde muito cedo o garoto se mostra interessado em conhecer Deus e fortalecer sua fé. Seu pai, seguidor da lógica e ciência, faz com que Pi perceba a dura realidade da vida. É quando ele conhece seu primeiro amor, uma bela jovem dançarina. Mas essa felicidade acaba quando seu pai decide se desfazer-se do zoológico, devido à retirada do incentivo dado pela prefeitura local. A ideia é vender os animais para reiniciar uma nova vida no Canadá. Porém, o cargueiro onde todos estão embarcados, acaba naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parke.

(Veja o trailer legendado)


******Se você ainda não assistiu ao filme, não leia o restante da matéria.*******


A análise a seguir, não leva em consideração aspectos fisiológicos que poderiam ser considerados.

Através de um olhar psicanalítico, pode-se entender que a catástrofe vivida pelo personagem, causando a perda de sua família, configura-se uma ameaça ao aparelho psíquico. A partir disso, apresentou ansiedade relacionadas a morte, perda, solidão e medo. Para lidar com essas questões, o sujeito tem alucinações compostas (visual, auditiva e tátil), faz uso de alguns mecanismos de defesa, como a cisão. Pi e Richard Parker, são na verdade, o mesmo ser. Desta forma, Pi mantém suas qualidades de religioso, incapaz de ferir alguém e, Richard Parker (o tigre de bengala) recebe seus aspectos negativos, de agressividade e instinto de matar.

Devido a ficção do filme, pode ser feito duas análises para os demais personagens - zebra, hiena e orangotango, levando em consideração que os animais nunca conseguiram escapar do naufrágio, pois todos estavam trancados em suas jaulas.

Na primeira – A mãe de Pi, o cozinheiro e o budista, supostamente, partilham o espaço do bote com Pi. Mas devido personalidade violenta do cozinheiro, assassina o budista – que estava com a perna quebrada e morreria logo com uma infecção. O cozinheiro usa-o como suprimento e isca para peixes. Mais tarde, a mãe de Pi é a próxima a morrer pelas mãos do cozinheiro. Não suportando a perda de sua mãe, Pi ataca o cozinheiro levando- a morte. Papel este, representado pela cisão de Pi, Richard Parker. Como a realidade do que aconteceu foi forte demais para o aparelho psíquico de Pi, ele inconscientemente projeta a imagem de sua mãe no orangotango, uma fantasia alucinatória, assim como projeta o budista na zebra e o cozinheiro na hiena.

A segunda – Ninguém, além de Pi, se salva do naufrágio. Os animais seriam alucinações causadas pelo forte desejo de ter consigo sua mãe, representada pelo orangotango, surgindo sobre um cacho de bananas, o alimento que significa o afeto. A zebra, no lugar do budista, representa a imagem de alguém solucionador de conflitos – como ocorreu cenas antes, quando o budista sugeriu comer molho com arroz, para não se alimentarem com carne. Todavia, a perda era evidente, ninguém havia sobrevivido, então surge o cozinheiro, identificado como a hiena, capaz de matar o budista e a mãe de Pi. Adaptando a realidade para manter a saúde mental do garoto. Neste momento, todo a ansiedade causada pela morte da família, o medo e a solidão são transferidos para o cozinheiro, tornando-o culpado por toda a desgraça acontecida. Para não fazer algo que o seu superego o condenaria, ocorre a cisão de Pi em Richard Parker. O tigre mata a hiena (cozinheiro) e Pi descarrega suas ansiedades nessa morte.

 Em ambas as análises o final é o mesmo, Pi chora copiosamente ao ser resgatado, porque Richard Parker finalmente regressa as instância mais escuras do seu inconsciente, representada pela selva fechada à beira da praia no México. Essa reestruturação do aparelho psíquico, torna-se ainda mais sofrida para o rapaz, pois num determinado momento ele e o tigre, se aproximam. Pi afaga a cabeça do tigre como se dissesse: “Eu aprecio essa parte do meu eu”. Então quando tudo acaba, ele se desespera ao ver uma parte de si tornando-se inacessível novamente.
     
Atenção: A análise psicológica do filme, é meramente especulativa.

Um comentário:

  1. Olha muito interessante essa visão feita sobre o filme, quando assisti, fiquei extremamente intrigado com todas as associações possíveis para se fazer.
    Um detalhe que mais me chamou a atenção foi PI sempre colocar em primeiro plano a mãe, quando grita por socorro, quando tem visões das pessoas que se foram, até mesmo quando faz a ligação com os animais do barco, a mãe está lá. Afinal a importância dela fica clara, não só pelo fato de ser a mãe, mas por ela ter apoiado suas decisões voltadas a religião, a sua busca por Deus, e em todo momento, para sobreviver, Pi não deixou de agradecer a Deus.

    ResponderExcluir

Quero saber o que você achou desse post. Deixe seu comentário aqui que eu vou tentar responder na medida do possível!