segunda-feira, 30 de setembro de 2013

“OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL” OBRAS COMPLETAS FREUD – VOL.XII

“Observações sobre o amor transferencial” (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III) – Obras Completas Freud – Vol.XII

“Para um leigo instruído, as coisas que se relacionam com o amor são incomensuráveis; acham-se, por assim dizer, escritas numa página especial em que nenhum outro texto é tolerado. Se uma paciente enamorou-se de seu médico, parece a tal leigo que são possíveis apenas dois desfechos.” Página 177.

  1. Que paciente e médico se unam legalmente e permanentemente;
  2. Que médico e paciente se separam e abandonem o tratamento;
  3. Não obstante, ainda surge um terceiro desfecho, é que eles iniciem um relacionamento ilícito, mas essa opção fere a moralidade convencional.

A atração da paciente pelo analista configura-se como uma artimanha da resistência (mecanismo de defesa) para desviar a atenção do foco utilizando-se da transferência erótica. Este (a transferência) é um “fenômeno que ocorre constantemente e que é, como sabemos, um dos fundamentos da teoria psicanalítica.” (...) Desta forma, o analista não deve atribuir o enamoramento de sua paciente aos seus encantos pessoais. “de maneira que não tem nenhum motivo para orgulhar-se de ‘conquista’, como seria chamada fora da análise.” Página 178.

Freud não considerava nem um pouco sensato a postura de alguns médicos da época que preparavam frequentemente suas pacientes para a transferência erótica, pois dessa forma o analista/ médico “priva o fenômeno do elemento de espontaneidade que é tão convincente e cria para si próprio, no futuro, obstáculos difíceis de superar.” Página 179.

É importante ressaltar que “nenhum médico que experimente isto pela primeira vez achará fácil manter o controle sobre o tratamento analítico e livrar-se da ilusão de que o tratamento realmente chegou ao fim.”

Em dado momento, a paciente pode ficar “inteiramente sem compreensão interna (insight) e parece estar absorvida em seu amor.” Então a “resistência está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a continuação do tratamento, desviar todo o seu interesse do trabalho e colocar o analista em posição canhestra.” A intenção deste mecanismo é rebaixar o médico “ao nível de amante e em conquistar todas as outras vantagens prometidas, que são incidentais à satisfação do amor.” Página 180.

“Mas como deve o analista comportar-se a fim de não fracassar nessa situação, se estiver persuadido de que o tratamento deve ser levado avante, apesar desta transferência erótica, eque deve enfrenta-la com calma?”

Visto que não “deve ponderar que chegou sua vez de apresentar à mulher que o ama as exigências da moralidade social” ,pois “instigar a paciente a suprimir, renunciar ou sublimar seus instintos, no momento em que ela admitiu sua transferência erótica, seria, não uma maneira analítica de lidar com ele, mas uma maneira insensata. Seria exatamente como se, após invocar um espírito dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos manda-los de volta para baixo, sem lhes haver feito uma única pergunta.” Além disso, a paciente se sentirá humilhada e não deixará de se vingar por ela.” Página 181.

“Visto exigirmos estrita sinceridade de nosso pacientes, colocamos em perigo toda a nossa autoridade, se nos deixarmos ser por eles apanhados num desvio da verdade. (...) “não devemos abandonar a neutralidade para com a paciente, que adquirimos por manter controlada a contratransferência.” (...) “O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência. Com isso não quero significar apenas a abstinência física, nem a privação de tudo o que paciente deseja, pois talvez nenhuma pessoa enferma pudesse tolerar isso.” Página 182.

Segundo Freud, se o analista cedesse aos encantos da paciente, retribuindo-lhe o amor ofertado, ocorreria que a paciente acalmaria o objetivo dela, mas ele nunca acalmaria o seu. Seria um triunfo para ela, mas uma derrota para o tratamento. (Página 185.) “Para o médico, motivos éticos unem-se aos técnicos para impedi-lo de dar à paciente seu amor”. Página 186.


“O público leigo, sobre cuja atitude em relação à psicanálise falei no inicio, indubitavelmente apossar-se-á deste debate do amor transferencial como mais outra oportunidade de dirigir a atenção do mundo para o sério perigo desse método terapêutico.” Página 187. 

Indicação de série que aborda bastante o assunto: Sessões de terapia.

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