segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Fenomenologia e Existencialismo

O existencialismo que se propõe a entender o ser humano a partir da sua existência, antes de procurar a sua essência. Os existencialistas entendem que aquilo que marca a vida diária das pessoas é que se oferece como a melhor chave de entendimento do fenômeno humano.

No existencialismo o homem cria seu ser-no-mundo e é responsável por suas escolhas; Ser-no-mundo é um modo peculiar de existir. Cada ser humano é um ser-no-mundo distinto. É um Ser que se relaciona com o Mundo. Por “Mundo” podemos entender, segundo Forghieri (2006), o conjunto de relações significativas dentro do qual a pessoa existe. Além disso, pode-se entender o mundo sob três aspectos diferentes e simultaneamente relacionados: o “Mundo Circundante” (É o contato do indivíduo com as situações concretas, como alimentar-se, ter interagir com a natureza, suas necessidades fisiológicas, e etc.), o “Mundo Humano” (É a relação de uma pessoa com outra pessoa, uma relação de comunicação e troca) e o “Mundo Próprio” (É a relação de um ser consigo mesmo, o significado que dá as experiências e a possibilidade de se atualizar).

Essa vivência de ser-no-mundo permite que a pessoa encare o tempo e o espaço de maneira distinta, própria, dependente da sua forma de existir e das características da sua experiência. Trata-se da capacidade humana de “Espacializar” e “Temporalizar”, conceitos indispensáveis na compreensão do ser humano na perspectiva do Existencialismo.

Temporalizar é uma experiência que somente os seres humanos têm. Os animais não têm a relação que nós estabelecemos com o tempo. Somente nós é que conseguimos atribuir significado peculiar ao tempo, significado que vai além do cronológico. Só nós podemos vivenciar o tempo de acordo com a nossa experiência. Por exemplo, se uma pessoa viveu momentos difíceis é possível que ela temporalize pensando sempre no passado, que é uma condição muito presente em pessoas depressivas. A temporalização tanto pode ser voltada para o passado (recordações), para o presente, quanto para o futuro (antecipações).

Espacializar, segundo Forghieri (2006), consiste no modo como vivenciamos o espaço da nossa existência. Ou seja, atribuímos significações subjetivas ao espaço que ocupamos no nosso existir. A espacialização tanto pode ser atrativa como repulsiva. Uma pessoa pode se atrair mais para um ambiente do que para outro, que lhe desperta memórias e sentimentos repulsivos.

Na filosofia, a expressão "condição humana" tende a suplantar a de "natureza humana" para designar a situação singular e única de cada homem no mundo (físico e social) e na história. De acordo com o existencialismo, essa condição humana seria a de nascimento, crescimento, envelhecimento, adoecimento, sofrimento e morte.

Quando uma criança nasce, o mundo está estabelecido assim como os anseios e as preocupações diante do mundo. Porém, com o seu nascimento a história no mundo se inicia tanto para a criança (com as questões fundamentais que para ela aparecem), como para os que a acompanham. Com ela também se inicia a esperança, que lá surja como possibilidade, respostas às questões do destino humano. O seu reconhecimento como indivíduo separado e, ao mesmo tempo, como ser humano semelhante aos demais é uma condição paradoxal, porque essa é uma questão que nos remete à singularidade e universalidade dos seres humanos. Por tanto, trata-se de uma construção pessoal pertencendo a coletividade. Além disso, vivenciar a condição humana permeia uma condição paradoxal de materialidade, no que se refere às questões corpóreas e espiritualidade, de divindade e alma (Pés na terra sonhando com o céu). Um ser finito que anseia pelo infinito (ideias, sonhos, utopias); E percebe conceitos sobre o que é mortal e a imortalidade; Vivenciando um espaço privado e compartilhado; Ordinários almejando o extraordinário. (Heráclito).
A condição humana permite busquemos o enraizamento e a abertura. Enraizamento seria a constituição das raízes na condição humana. “Encontrar raízes é encontrar lugar a partir do qual é possível destinar-se.” Cardella (2011). Criar sentido. Podendo seguir numa Dimensão horizontal: transito no mundo e em uma Dimensão vertical: altitudes e profundidades do existir humano.

A condição humana pressupõem:

Registros Ônticos, ou seja, registros dos contatos: a biografia do ser, suas necessidades, conflitos, limites, projetos e etc...

Registro ontológico (Estudo da existência): Ethos humano. (Ethos significa costumes de um grupo). Constituem o Ethos: a hospitalidade; o pertencimento; o reconhecimento; a singularidade; a criatividade; a responsabilidade; a transcendência.
O método experimental: Todos os cientistas, de qualquer área, buscam captar e explicitar o verdadeiro significado da realidade e para isso entendem que precisam de objetividade. Esta é a lógica da ciência moderna. O método experimental busca a objetividade através da anulação da subjetividade. A partir do século XIX, o método experimental passou a ser utilizado por todas as ciências, inclusive pela Psicologia, o que implicou em considerar o ser humano como um objeto entre tantos outros objetos na natureza, governado por leis naturais que determinam seus eventos psicológicos.


A fenomenologia é um tratado científico a respeito da descrição e classificação dos fenômenos. É uma ciência subjetiva que estuda o próprio fenômeno. O termo “Fenomenologia” provém do grego “phainesthai” que é tudo aquilo que se revela, não somente aquilo que aparece ou parece e, “logos” que significa estudo, pensamento -capacidade de refletir. Por tanto, é uma reflexão sobre um fenômeno ou sobre aquilo que se mostra. O que se mostra e como se mostra.
           
Surge no cenário da filosofia como uma contestação ao método experimental, especialmente quanto ao seu uso pelas ciências do ser humano, como a Psicologia, por exemplo. A Fenomenologia implementa um modo diferente de se fazer ciência e adquirir conhecimento. Apresenta um método para compreender o sentido das coisas, tanto temas filosóficos, quanto temas tradicionais. Assim, temos que percorrer um caminho para chegar à compreensão do sentido das coisas. *Edmund HUSSERL, proponente da Fenomenologia busca interpretar o mundo através da consciência de um determinado sujeito, segundo as suas experiências. Essa é a essência de um determinado fenômeno, que é encontrada através do processo de redução fenomenológica (Esse é consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, eventos, memórias, sentimentos, etc. experiências de consciência), todas as coisas são caracterizadas por serem inacabadas e por estar em constante processo de modificação. Ou seja, a fenomenologia é um método que pretende chegar ao fenômeno por *visão categorial para compreender sua essência.

  • A percepção categorial é imediata, espontânea, pré-reflexiva, própria da vida cotidiana. Nela não há separação entre consciência e objeto, este é captado na sua totalidade por intuição.
·         Considerações sobre o pai da fenomenologia, Edmund Husserl - (1859 -1938) morava em um antigo império austríaco hoje república checa. Estudou física, matemática, astronomia e filosofia em varias universidades, como Berlim e Viena. Em 1884, foi para Viena, obter contato com Franz Brentano e descobre sua vocação filosófica.

A Fenomenologia entende que o caminho para se compreender o fenômeno deve ser construído pela descrição. A descrição leva o observador à experiência do fenômeno. Assim que o investigador se envolver na observação, uma experiência entre ele e o fenômeno começa a se processar, dando-se, a seguir, a automanifestação do fenômeno, ou seja, o próprio fenômeno inicia o seu processo de revelação. “Suspenso” de qualquer julgamento ou teoria, o observador fenomenológico tem condições de ver atentamente e chegar à “descrição” do fenômeno, e a descrição é um ato que nasce da observação desnudada de apriorismos.

A relação sujeito-objeto, ocorre no direcionamento da consciência (de um ser) para um objeto e depois volta do objeto para a consciência, é assim que se dá a intencionalidade. Ou seja, a consciência é sempre intencional e está constantemente voltada para um objeto e este é sempre objeto para uma consciência. A intencionalidade é o ato de atribuir um sentido. É ela que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo.

Uma definição simplificada de Fenomenologia.
“Um modo de investigação da realidade que consiste na investigação e descrição cuidadosa dos fenômenos, com o compromisso por parte do investigador de deixar de lado ideias pré-concebidas, teorias explicativas, apriorismos e pressupostos.”

Esse processo de investigação se constitui da seguinte forma:
Vemos a realidade, a observamos com atenção, a descrevemos fielmente, e damos nossa compreensão cuidadosa, trabalhamos no aqui e agora; estando atentos à temporalidade, à espacialidade, como a pessoa se revela na terapia, estamos atentos à pessoa como um todo.
(Ribeiro, J.P.,1997)
Atitude fenomenológica é de:
Questionar o que se vê;
Buscar naquilo que se apresenta o como da relação;
Desdobrar o sentido da fala do cliente: o que é?
“Ir à coisa mesma” perseguir o dado que se repete;
Não só descreve mas percebe o diferente no que se repete.

O terapeuta com seus instrumentos ajuda o cliente a perceber seus próprios instrumentos para poder lidar com suas questões. Não só descreve mas percebe o diferente no que se repete. De acordo com a fenomenologia devemos questionar o que se vê, buscar saber como se dá as relações e o desdobrar do sentido da fala do cliente (O que se repete? Como se apresenta?). O comportamento repetido acaba surgindo quando há um processo inacabado e que necessita de fechamento.

Aula Professor Roberto Peres Veras & Professora Ivete ministradas no curso de psicologia da Faculdade Unisa sobre Abordagens Humanistas. 

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