sábado, 1 de junho de 2013

Entrevista Inicial - Revisão das Técnicas Psicanalíticas


De acordo com Zimerman (2004) na primeira comunicação entre paciente e terapeuta, mesmo que por telefone, é possível notar o “jeito de ser” dessa pessoa. Desde alguém que é muito tímido, por temer ser repelido, até alguém que age com demasiada arrogância, o que indica a utilização de um mecanismo de defesa contra suas angústias.

Também é útil destacar a diferença entre entrevista inicial e primeira sessão.

Basicamente, “a entrevista inicial antecede ao contrato, enquanto a primeira sessão concerne ao fato de que a análise já começou formalmente.” (Zimerman, 2004, p.58)

Na prática terapêutica, alguns profissionais costumam cobrar pela entrevista inicial, em contrapartida, para outros cobram apenas a partir a primeira sessão. O que você pensa a esse respeito?
Qual é a real finalidade da entrevista inicial?

É essencial para que o terapeuta possa levantar informações sobre a situação metal, emocional, física, talvez patológica e factual da vida desse sujeito em busca de análise. Além de reconhecer os “prováveis riscos e benefícios” que envolverão esta relação analítica. (...) Também é fundamental estimar a “qualidade da motivação” do paciente, conscientes e inconscientes. (Zimerman, 2004)

Como elaborar a primeira impressão diagnóstica numa entrevista inicial?

É preciso levar em consideração alguns aspectos:

“1. Nosológicos (uma determinada categoria clínica). 2. Dinâmico (a lógica do inconsciente) 3. Evolutiva (cada etapas, preponderância de vazios, carências orais, defesas obsessivas, etc.). 4. Funções do ego ( “capacidade sintética do ego”). 5. Configurações vinculares (dentro da família ou fora dela). 6. Comunicacional ( na atualidade, esse aspecto adquire uma grande relevância). 7. Corporal (cuidados corporais, auto imagem, presença de hipocondria de somatizações) 8. Manifestações transferenciais e contra transferenciais, etc.” (Zimerman, 2004, p. 59).

Para avaliar os pós e contras de uma relação analítica é preciso diferenciar os conceitos de analisabilidade e de acessibilidade. A analisabilidade é essencialmente apoiada na face diagnóstica clínina (se o paciente tem alguma patologia mental de origem física e/ou psíquica). Na acessibilidade o olhar do analista não é voltado apenas à patologia, mas à “personalidade total” do paciente. (Zimerman, 2004).

A principal contraindicação para realização da análise é a incapacidade por parte do paciente de elaborar. Uma vez que esta é a ferramenta básica para eficácia do processo terapêutico psicanalítico.

Após a entrevista inicial é proposto um contrato, que é fundamental para estabelecer a base da relação entre analista e paciente. Segundo o dicionário a palavra contrato significa: “s.m. Acordo, trato em que duas ou mais pessoas assumem certos compromissos ou obrigações, ou asseguram entre si algum direito.”. Logo, o termo aplicado a relação terapêutica serve para definir “papéis e funções , centrada na natureza de trabalho consciente ( direitos e deveres de cada um, combinações de valores e forma de pagamento, horário, plano de férias, etc.)”. (Zimerman, 2004, p.62).

Segundo Zimerman (2004  p.63) é esperado do analista:
Que este esteja motivado para atender analiticamente um paciente;
Ter claro, seu projeto terapêutico e saber se este está de acordo com o objetivo que é obter resultados terapêuticos satisfatórios;
Perceber se tem conhecimento teórico-técnico para lidar com pacientes regressivos;
Averiguar se preenche as “condições necessárias mínimas” postuladas por Bion (1992);
Deve se utilizar de vários recursos “táticos de abordagem e estilos pessoais de interpretação”, mesmo que isso signifique transpassar os limites das regras analíticas, sem modifica-la em sua essência;
Deve reconhecer a origem de sua contratransferência;
“Deve estar capacitado de se envolver afetivamente com o paciente sem ficar envolvido”;
Deve ser despojado de pretensão quanto terapeuta;
Não deve se “saturar” com o desejo de cura;
Precisa “trabalhar em condições de conforto físico, emocional e espiritual”.

É importante enfatizar que a relação analista-paciente não é simétrica, “ou seja, os lugares ocupados e os papéis a serem desempenhados são desiguais, assimétricos, e obedecem a uma natural hierarquia, com direitos, deveres e privilégios distintos”. (Zimerman, 2004 p. 65).

Não há similaridade, “isto é, os dois do par analítico não são iguais, diferentemente do que imaginam muitos pacientes regressivos, (...) que tem dificuldade de admitir que o terapeuta é uma pessoa autônoma, tem a sua própria técnica e o seu próprio estilo de trabalhar; pensar e viver”. (Zimerman, 2004 p. 65).

Por fim, “a relação que o paciente reproduz com o analista é isomórfica (ou seja, na essência, eles se comportam de uma “mesma forma”, como seres humanos que são). O conceito de isomorfia não deve ser confundido com a ideia de que o analista será substituto para uma mãe ou pai, mas sim que ele desempenhará (se necessário), transitoriamente as funções de maternagem (ou outras equivalentes) que o paciente carece.” (Zimerman, 2004 p. 65).  

Referência:

Zimerman, David E. (2004) Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão/ David E. Zimerman. Porto Alegre. Artmed.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quero saber o que você achou desse post. Deixe seu comentário aqui que eu vou tentar responder na medida do possível!