domingo, 29 de setembro de 2013

Transferência sob o olhar de Greenson

GREENSON,R.Ralph. A Técnica e a Prática da Psicanálise. Vol.1. Rio de Janeiro: Imago, 1981.
Retirado da aula de psicanálise. Professor, Dr. Heidrich.
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TRANSFERÊNCIA



Cap. 3

 fenômeno inconsciente, “é uma repetição, uma nova edição de um relacionamento objetal antigo”. Sua “característica principal é a vivência de sentimentos – em relação a uma pessoa – que não está endereçada àquela pessoa e que, na verdade, está a outra. […] uma pessoa no presente é reativada como se fosse uma pessoa do passado”(p.168). Ou seja, “é uma repetição e é inadequada”(p.171).

Transferência…
“Pode conter qualquer dos componentes de uma relação objetal”: […] vivenciada como sentimentos, impulsos, desejos, medos, fantasias, atitudes, idéias ou defesas contra isso tudo”(p.168).
“As pessoas que são as fontes originais das reações transferenciais são as pessoas importantes e significativas da infância primitiva (Freud,1912ª,p.104)” (p.168).

Ocorre dentro e fora da análise, tanto nos neuróticos e psicóticos quanto nas pessoas saudáveis.

Duplo poder (p.167)

“instrumento de valor insubstituível”: oportuniza a investigação do passado e o inconsciente.
 “fonte dos maiores perigos”: desperta resistências que são obstáculos ao trabalho do analista.

“Reações Transferenciais”

GREENSON prefere usar o termo “Reações Transferenciais”, uma vez que considera os fenômenos transferenciais como “muitos, múltiplos e variados”(p.168).
São sempre inadequadas no contexto atual, embora adequadas na situação do passado.
Como repetições, podem estar a serviço de “oportunidades tardias para a satisfação” ou “como uma defesa contra a recordação”. “A repetição pode ser uma cópia exata do passado ou […] uma versão modificada […] em direção à satisfação do desejo.”(p.169).
A situação analítica…
facilita as reações transferenciais, utilizando-as para “interpretação e reconstrução”.
Os neuróticos, os frustrados e as pessoas infelizes são propensos às reações transferenciais, sendo o analista um alvo ideal (bem como as pessoas importantes na vida do paciente). 

Quadro clínico: características gerais (p.171)

Inadequação: “a inadequação de uma reação a uma situação atual é o primeiro sinal de que a pessoa que desencadeia a reação não é o objeto verdadeiro ou decisivo. Ela indica que a reação, provavelmente, pertence e se encaixa num objeto no passado” (p.173).
Características…
Intensidade: “Em geral, as reações emocionais intensas em relação ao analista são indicativas de transferência.” Há, também, a possibilidade de reação realista do paciente, exemplo: quando o analista dorme na sessão – Porém, é preciso considerar a possibilidade de que “haja sempre um núcleo transferencial além da superestrutura realista”.
A ausência de reações também é um sinal seguro de transferência. O paciente pode estar tendo reações mas as está controlando por que está acanhado ou com medo”(p.174). “Ausência prolongada de sentimentos, pensamentos ou fantasias sobre o analista é um fenômeno transferencial, uma resistência transferencial” (p.175).
Ambivalência
 “todas as reações transferenciais se caracterizam pela ambivalência, a coexistência de sentimentos opostos. […] um aspecto do sentimento é inconsciente. […] A ambivalência pode ser facilmente detectada quando os sentimentos envolvidos são inconstantes e mudam inesperadamente”. “[…] na transferência também podem ocorrer reações pré-ambivalentes. A figura do analista é dividida num objeto bom e num objeto mau […]. Quando os pacientes que reagem desta maneira – e eles sempre são os mais regredidos – conseguem perceber a ambivalência que sentem pelo mesmo objeto unitário, isso demonstra que houve um progresso enorme” (p.176).
Inconstância
“Os sentimentos transferenciais são, em geral, inconstantes, irregulares e excêntricos. Principalmente no começo da análise. Glover (1955) chamou de ‘reações transferenciais ‘flutuantes’.”(p.177).
Tenacidade: “Enquanto as reações esporádicas costumam aparecer no início da análise, as reações rígidas e prolongadas têm mais probabilidade de surgir nas fases mais avançadas” (não é regra). […] A tenacidade e a falta de espontaneidade são sinais de reações transferenciais. […] são devidas a uma combinação de defesa inconsciente e satisfação instintual.” (p.179).

“É a inadequação em termos de intensidade, ambivalência, inconstância ou tenacidade que mostra que a transferência está em ação.” (p.180).

O Relacionamento Real entre Paciente e Analista (p.240).  


“As reações transferenciais e a aliança de trabalho são, clinicamente, as duas variedades mais importantes de relações objetais que ocorrem na situação analítica”.

No decorrer da análise também surge um ‘relacionamento real’ entre paciente e analista:

comparado com o termo transferência (irreal, distorcido, inadequado), real pode significar realista ou “não-distorcido”. “Pode também se referir a genuíno, autêntico, verdadeiro…”

O termo Real será usado para “me referir ao relacionamento realista e genuíno entre analista e paciente”.

“Tanto no paciente como no analista, as reações transferenciais são irreais e inadequadas mas são genuínas, são verdadeiramente sentidas. Em ambos, a aliança de trabalho é realista e adequada mas é um artifício da situação de tratamento. Em ambos, o relacionamento é genuíno e real. O paciente utiliza a aliança de trabalho a fim de entender o ponto de vista do analista mas suas respostas transferenciais tomam a dianteira se aparecerem. No analista, a aliança de trabalho toma a dianteira sobre todas as outras respostas diretas ao paciente” (p.240-241). 

“O comportamento do analista, de firme aceitação e tolerância, sua busca constante de compreensão, sua franqueza, objetivo terapêutico e sua reserva funcionam como o núcleo sobre o qual o paciente constrói um relacionamento objetal realista. Estes traços – dignos de confiança – do analista, induzem o paciente a estabelecer as diversas identificações que se tornam o âmago da aliança de trabalho” (p.242).
Para uma aliança de trabalho…


O analista deve ser uma pessoa que pode ter empatia e sentir compaixão sinceramente e mesmo assim manter uma reserva. Às vezes, é preciso causar sofrimento. Mas o tratamento psicanalítico não pode ser feito num ambiente de austeridade constante, distanciamento gelado ou euforia prolongada” (p.245).
As reações contratransferenciais…


“devem ser detectadas e controladas. As reações violentas e realista também devem ser controladas, a natureza de tais reações talvez indique a possibilidade de ter selecionado um paciente com quem não consegue trabalhar”(p.246).
As reações transferenciais…


No paciente, “predominam na longa fase intermediária da análise. O relacionamento real fica em primeiro plano no início e torna a ficar em evidência na fase final. A aliança de trabalho se desenvolve lá para o final da fase introdutória mas recua periodicamente até o paciente se aproximar da fase final do tratamento”.(p.246).


No analista, “a aliança de trabalho deve predominar do começo ao fim. A contratransferência deve ficar sempre em segundo plano. O relacionamento real deve ficar mais livre somente na fase final” (p.246).

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