Na atuação com
mulheres que estão nos períodos de gestação e *puerpério, se psicólogo
compreender e explicar todos os seus fenômenos aparentes somente pelo olhar
psicológico, estará cometendo um grande erro, pois nesses períodos, as mulheres
apresentam alterações hormonais, corporais, sociais e profissionais, por isso,
é preciso saber que há a existência de outras variáveis que não são apenas
psicológicas. Desse modo, o psicólogo não pode se limitar a ter um conhecimento
restrito à psicologia, é necessário o conhecimentos de aspectos sociais e
biológicos.
O psicólogo
deve conhecer as fases de uma gravidez, pois só assim poderá orientar a
gestante em cada estágio, já que cada período tem características diferentes e
riscos específicos.
*puerpério –
dura por volta de 8 semanas.
O pré-natal, quando é feita a prevenção de
problemas gestacionais e o controle para o desenvolvimento de problemas
psicológicos, é uma das primeiras formas do contato da mulher com a própria
gravidez e, é nesse momento que os pais podem falar sobre suas dúvidas e
fantasias. Também é quando os fatores de risco psicológico são identificados.
Fatores de risco:
- gravidez
indesejada
- na relação
conjugal
- história
prévia de problemas psiquiátricos
- conflitos
sobre a própria maternidade
- baixo apoio
psicossocial
- menoridade
- ser solteira
- antecedentes
de aborto e possibilidade de interromper a atual gravidez
Como identificar os sintomas?
Muitos dos
sintomas naturais da gestação estão sobrepostos à sintomatologia depressiva:
cansaço, letargia, labilidade emocional, irritabilidade, mudanças de apetite,
diminuição da libido, distúrbios do sono e preocupação com o corpo. Assim, a avaliação
psicológica ajuda na discriminação de sintomas e sentimentos relacionados ao
estado da gravidez, maternidade, preocupação natural com a saúde do bebê, com
problemas pessoais relativos à capacidade de adaptação ao seu novo papel e/ou
queixas relacionadas com a condição orgânica da gestante.
- O trabalho
de parto prematuro (é considerado prematuro o feto que nasce entre a 23ª e a
37ª semana).
- Doença
hipertensiva específica da gravidez (o surgimento concomitante ou isolado de
hipertensão, edema e proteinúria – perda de proteínas pela urina) em gestantes
anteriormente saudáveis.
- Diabetes
gestacional (desenvolve-se durante a gravidez e caracteriza-se pela
descompensação dos níveis glicêmicos).
- Amniorrexe
prematura – ruptura da membrana amniótica quando o colo ainda está imaturo e o
feto é prematuro.
Mesmo
que mãe e bebê estejam bem, é importante o psicólogo investigar:
- A
vida conjugal
- Os
eventos de vida estressantes
- Os
problemas relacionados à infância da mãe
- As
disfunções familiares
- A
falta de suporte social
- Os
problemas psiquiátricos existentes
Transtornos Psiquiátricos
O blues atinge de 50 a 75% das puérperas
e, podem apresentar por volta do 4º ou 5º dia após o parto. Esse quadro
clinico, trata-se de um distúrbio emocional transitório e está associado a uma
questão hormonal. Apresenta algum grau de humor depressivo ou de tristeza (labilidade
emocional*, irritabilidade) nos primeiros dias após o parto, que tende a
diminuir após o 10º dia. Esse quadro se diferencia da depressão pós-parto, pois
não apresenta comprometimento da vida social ou da relação entre a mãe e o
bebê.
*labilidade
emocional – instabilidade afetiva.
A depressão
pós-parto é um distúrbio muito comum e os principais fatores de risco são:
- O
desajuste no casamento;
-
Eventos estressantes de vida;
- Expectativas
maternas;
- Preocupações
referente aos cuidados com o bebê;
-
Problemas familiares;
- Falta
de suporte social;
- Ambivalência
na gravidez;
- Estresse
obstétrico;
É
importante ressaltar que sintomas semelhantes à dos quadros depressivos também
ocorrem em outros momentos do ciclo reprodutivo feminino, como a ansiedade,
humor deprimido, insônia, anedonia – incapacidade para sentir prazer.
Embora a psicose
seja um distúrbio menos comum, é o mais grave, pois os riscos para o bebê e
para a mãe são alarmantes. Esse quadro tem início agudo dentro das quatro
primeiras semanas após o parto. Os principais sintomas são: desconfiança,
ideação paranoide, alucinações, discurso incoerente e desorganizado, mutismo,
atos irracionais, confusão mental, desorientação tempo-espacial, alterações de
memória, episódios transitórios de delírios paranoides, alucinações.
A diferença entre mães depressivas e
psicóticas:
- Mães deprimidas: podem acreditar que seus bebês estão doentes ou possuem malformações,
podem sentir-se culpadas por não sentirem amor pelo bebê.
- Mães psicóticas: pode estar sofrendo de algum delírio que coloca em risco sua vida ou a
vida do bebê.
Como intervir?
Devemos
propiciar um espaço facilitador para que possa favorecer uma reorganização e
adaptação da gestante à gravidez de alto risco, parto e puerpério. O atendimento
psicológico pode ser tanto individual quanto em grupo. É de grande importância a
leitura do prontuário e a obtenção de informações com a equipe, para ajudar na
avaliação psicológica. Neste contexto, é preciso verificar as situações conflitantes
frente à gravidez, ao parto e a maternidade em geral, bem como a relação
estabelecida com a gravidez e as reações presentes na hospitalização.
Pediatria
O adoecimento
e a hospitalização infantil provocam experiências emocionais intensas e
complexas e consequentemente há o surgimento de um novo contexto, a mobilização
de recursos internos necessários para a adaptação à nova situação. Após o 5º
dia de hospitalização, as crianças tendem a desenvolver transtornos
psicológicos e/ou comportamentais, por isso é necessário detectar quais são as
variáveis psicológicas da criança e da família que aumentam a probabilidade do desenvolvimento desses transtornos.
Os fatores
referentes à reação da criança com a doença e hospitalização dependem do grau
de compreensão que ela tem sobre sua realidade. O psicólogo deve levar em
consideração a capacidade cognitiva da criança de discriminar e compreender o
que ocorre ao seu redor. Por isso, é fundamental que o psicólogo tenha
conhecimentos acerca do desenvolvimento infantil, pois a doença pode
comprometer a integridade física e psicológica da criança. Mas é importante
ressaltar que cada indivíduo, independentemente da maturação biológica,
cognitiva e emocional, pode perceber a doença e a hospitalização de maneira
idiossincrática. Dessa forma devemos considerar o ambiente familiar, as regras
e normas da rede social onde a criança está inserida.
As reações
psicológicas frente à doença vão depender da faixa etária da criança,
preocupações com sua integridade física, sensações de desconforto, sentimentos
de abandono, punição e dificuldades no relacionamento social. Pode haver regressão
e passividade frente ao adoecimento, por
exemplo o ambiente hospitalar pode ser visto como algo ameaçador, ativando
manifestações psíquicas regressivas.
A comunicação
com a criança é por muitas vezes, subestimada pela equipe médica que a isola da
compreensão dos fatos. Já os pais, acreditam que estão protegendo seu filho
quando o privam de informações. Mas é fundamental que seja esclarecido para a criança
o que está acontecendo com ela. É seu direito, acompanhar o que se passa com
ela, de acordo com seu nível de maturidade e com suas possibilidades de
compreensão, então cabe aos adultos encontrar palavras que sejam condizentes
com as capacidades de entendimento da criança. Essas informações possibilitam
ao paciente organizar sua vida emocional, mobilizando recursos internos
necessários para o enfrentamento da doença. Em contrapartida, o desconhecimento
do que se passa com o próprio corpo, favorece o aumento do sofrimento psíquico
e, as fantasias tomam o lugar das lacunas deixadas pela falta de esclarecimento.
É evidente que só informar a criança não caracteriza a habilidade de elaboração
do problema. É fundamental avaliar o significado que a doença tem para a
criança e seus familiares, já que as crenças distorcidas que podem comprometer
a adesão ao tratamento, o enfrentamento da doença e os níveis de qualidade de
vida.
Os principais pedidos para atendimento
em enfermaria pediátrica incluem:
- não
colaboração com o tratamento;
- alterações
de comportamento e humor;
- seguimento
após situações traumáticas;
-
acompanhamento em pré ou pós-operatório;
-
acompanhamento após confirmação de diagnósticos graves ou prognósticos
reservados;
- suspeitas de
maus tratos.
A avaliação
psicológica é também um procedimento utilizado na internação de crianças. Quando
bem realizada e conduzida, pode reduzir o tempo de internação, o número de novas
internações e o custo dos tratamentos médicos. Além disso, permite identificar
e compreender o comprometimento emocional do paciente e seus familiares,
identificando o que a doença representa e, as implicações da adaptação frente à
rotina hospitalar.
Material: Professora Lívia, Faculdade UNISA.
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