segunda-feira, 3 de junho de 2013

RECOMENDAÇÕES AOS QUE EXERCEM A PSICANÁLISE

Sigmund Freud (1856-1939)
Ao logo do anos Freud (1911-1913) postulou algumas regras para a técnica psicanalítica, conforme era observava na sua prática com os pacientes. Com isso, ele esperava poupar alguns médicos que exerciam a psicanálise de um trabalho desnecessário.

A primeira advertência que ele faz é com relação ao habito de tomar nota dos relatos que o paciente traz para a análise. Freud não admite essa prática, pois anotar o discurso do analisando o analista foca a atenção em parte do que foi dito e a outra parte acaba sendo excluída. E a intensão é justamente o oposto dessa prática. “Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e manter a mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ em face a tudo que se escuta.” (Freud, 1911-1913. P. 125). É preciso evitar que se concentre a atenção em um único foco, pois dessa maneira não estaria o analista correspondendo à confiança que o paciente lhe emprega ao relatar tudo o que sabe a respeito de si próprio, de modo que uma parte de seu discurso nunca é mais importante do que a outra, ambas devem ser igualmente valorizada e, isso só se torna possível através a chamada, “atenção flutuante”.

Além disso, focar a atenção em apenas um ponto do discurso faz com que o analista, selecione o conteúdo apresentado e incorra no risco de não descobrir “nada além do que já sabe” ou “falsificará o que possa perceber.” (Freud, 1911-1913 p.126).

Para que nada disso ocorra, o analista “deve simplesmente escutar e não se preocupar se está se lembrando de alguma coisa”, pois “ aqueles elementos do material que já formam um texto coerente ficarão à disposição consciente do médico; o resto, ainda desconexo e em desordem caótica, parece a princípio estar submerso, mas vem rapidamente à lembrança assim que o paciente traz à baila algo novo.” (Freud, 1911-1913. p.126).

A prática de tomar notas só se justifica se for o caso de coleta de dados para um estudo científico. Porém, é importante perceber que tratamento e pesquisa não podem caminhar juntos. Ou seja, se o analista está tratando de um paciente, não pode utilizá-lo como objeto de estudo e vice-versa. Uma vez que nem o tratamento será benéfico nem a pesquisa contará com dados completamente objetivos. (Freud, 1911-1913)

Outra questão levantada é a que se refere ao modelo de analista que se abstém de todos os sentimentos no momento da prática terapêutica. Embora não pudesse aconselhar seus colegas nessa empreitada, ele assegura que é a melhor maneira de oferecer ao paciente o “maior auxílio que lhe podemos dar” e ainda cercar o analista da “proteção desejável para a sua vida emocional”. ( Freud, 1911-1913. p. 129)

Diante disso, a psicanálise não aconselha que o analista, mesmo com a intenção de superar as resistências do paciente, apresente aspectos da sua vida pessoal. Visto que com isso, paciente e analista serão visto em pé de igualdade. Embora, como já foi citado anteriormente, todos somos seres isomórficos, ou seja, iguais em nossa natureza humana, mas diferentes quando se trata de um processo analítico. Por isso é preciso haver uma assimetria entre o profissional, dotado de todas das técnicas, e o paciente, que merece receber o respaldo da confiança empregada no analista. Por tanto, o psicanalista “deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrado.” (Freud, 1911-1913, p.131).

Durante a atividade analítica pode acontecer que profissional perceba que todas as questões que afligiam o paciente foram solucionadas, e se veja tentado a indicar novos alvos para trabalhar. Segundo Freud, isso é um erro, pois é preciso respeitar as capacidades do paciente, em vez de tentar formar um sujeito perfeito com base no que o analista considera ideal. Caso isso ocorra, é possível que a sublimação imposta pelo analista, torne a vida desse sujeito mais difícil do que ele sente que é. Em outras palavras, o analista deve controlar esse desejo (próprio) de sublimação e se sentir satisfeito por haver propiciado a seu paciente o benefício que ele necessitava. (Freud, 1911-1913).  
  

Freud, S. (1911-1913). Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard Brasileira. Rio de Janeiro. Imago. 1996.

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